O ABC no Rio: artista andreense faz individual em galeria de design carioca

O andreense Guilherme Gafi expõe partir de hoje na galeria de design Gozto. Batizada ‘Assentamentos’, a exposição é voltada ao design de mobiliário e prossegue até 1º de julho. A Gozto está localizada  no sítio histórico  carioca do Largo do Boticário (no Beco do Boticário 1, bairro do Cosme Velho, Rio de Janeiro), onde se encontra o espaço cultural do publicitário, jornalista e RP — e há um ano galerista — Sergio Zobaran.

Em sua estreia no design de marcenaria autoral, o paulista Guilherme Gafi traz Assentamentos, que apresenta obras escultóricas na forma de assentos geométricos, criados com madeiras de descarte coletadas em caçambas estacionadas nas avenidas do ABC, região onde vive e trabalha, associadas ao mogno africano, fruto da parceria da gozto com a Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano – ABPMA e a Khaya Woods, que doou ao artista 900 quilos desta madeira nobre que vem sendo produzida no Brasil.

Foto: Jhonathan Christopher/Divulgação

Com um histórico de exposições individuais e coletivas no Brasil e fora, e com residências artísticas realizadas em Portugal e na China, Guilherme Gafi é pintor, desenhista, ilustrador e artista gráfico urbano. Premiado em salões de arte contemporânea em nosso país, o artista transita entre diversos suportes, do grafite à pintura e à escultura.

Nascido em Santo André, no Grande ABC Paulista, uma região marcada pela indústria metalúrgica no estado de São Paulo, Guilherme Gafi se diz influenciado pelos ciclos da vida. A partir da própria vivência e reflexão, o artista aborda temas relacionados à complexidade existencial e coletiva,  em especial sobre os agentes que atuam e transformam as cidades, como o cotidiano dos trabalhadores e das edificações urbanas, temas representados em suas pinturas figurativas e abstratas.  Em contraste, evidencia a relação do indivíduo com a natureza, percebida durante sua experiência no Rio de Janeiro, e em sua exploração com a rica materialidade da madeira, que se tornou sua nova forma de expressão artística.

Ao ressignificar a madeira, tanto na forma quanto na funcionalidade, o artista evidencia a estética do design, em série encomendada pela galeria e concebida para compor novos interiores e paisagens contemporâneas.

Texto de Fóssil (José Augusto Lisboa)

Uma palavra combina com qualquer horário do dia: conforto, assim como o final da jornada pede uma boa dose de descanso. Guilherme Gafi pareceu partir dessas premissas para formatar sua nova série que mistura arte e design: suas valiosas e inspiradas cadeiras geométricas. O mobiliário de Gafi é quase um alerta, ou melhor, um convite: sente-se, descanse um teco. É como se a ele fosse dada essa competência: de fazer despertar nas pessoas algo que elas necessitam, porém, nem sempre podem ouvir ou estão dispostas a isso.

Nesse sentido essa série extraordinária de mobiliário também é algo preventivo: prove seu descanso, ele é seu ainda. As cadeiras clamam à preguiça quase extinta e tão necessária.

Gafi parece caminhar pelas ruas do ABC onde mora olhando bem na cara das pessoas, buscando suas necessidades. E assim, pensando o mundo de quem trabalha muito, Gafi foi desenvolvendo  sua obra, encontrando respaldo na realidade de quem sai às ruas por obrigação, como ele próprio, aliás. Mas Gafi ainda consegue ir além. Com este seu novo trabalho ele parece nos dizer tanta coisa sem pronunciar uma única palavra, como um sonoro não ao desperdício. 

Essa nova série de móveis foi elaborada a partir de materiais descartados que o artista coleta em caçambas estacionadas em vias públicas próximas ao prédio onde mora, associada à madeira de lei que recebeu da ABPMA (Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano). Os objetos, peças únicas, exclusivas, são minuciosamente projetados em seu caderno de esboços, onde são desenvolvidas experimentações de diversas formas e cores. Os desenhos são tão vivos que por vezes tem-se a sensação de que alguém vai arrastar uma das cadeiras da página para descansar 15 minutos. Assim Gafi consegue com seu esforço cumprir com seu papel inicial: pensar o outro como a si mesmo.”

Fotos (home e interna): João Victor Lioi

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