A arte de ouvir o outro

As mídias sociais nos tornaram ‘especialistas’ em todos os assuntos, menos no que se refere a ter empatia

*Markus Raymond

Será impressão só minha ou é realidade que a pandemia, além das questões diretamente relacionadas ao vírus, nos colocou “fora da casinha” e tem impactado diretamente aspectos mais profundos de nossos sentimentos e emoções. Penso em como ela potencializou de forma implacável nossa impaciência e, por consequência, o aumento dos conflitos nas relações interpessoais.

Sim, a humanidade tem sede de resposta às suas urgências, então nada mais óbvio que para cada vírus que surge no planeta vem a necessidade de buscarmos a solução medicinal. Contudo, observa-se desde outras epidemias, que a saúde mental é a parte mais afetada no que se refere à quantidade de pessoas e no grau desta afetação.

E como não sou diferente dos demais, tenho presenciado, às vezes até participado ou, ainda, escutado relatos (independentemente da classe social dos interlocutores) de bate-papos que começam muito tranquilos e se convertem em confrontos duros de um momento para outro. Parece que todas nossas conversas se tornaram um debate entre especialistas.

As mídias sociais nos tornaram ‘especialistas’ em todos os assuntos, menos no que se refere a ter empatia. Veja só que maravilha! Embora os números de alfabetização do País apontem outros resultados (mas o que são números para aqueles que não sabem ler?).

Basta alguém comentar que está no momento de realizar alguma mudança na vida, por exemplo: mudar de residência para bairro X, inicia-se, pelo suposto ouvinte, uma enxurrada de falas apontando os motivos pelo qual não deveria fazer tal mudança, chegando-se a insensatez de dizer que a decisão será um grande erro.

Será que a pessoa realmente pediu um conselho sobre a qualidade do bairro X ou a aprovação para a realizar a mudança? Ou ela, simplesmente, quis compartilhar algo para a partir daí surgir uma conversa agradável?

A necessidade de estabelecer se somos concordantes ou não em qualquer assunto nos torna frios e truculentos. Ficamos sedentos por marcar nossas convicções e garantir que o outro se molde às nossas leituras e visões a ponto de não pensarmos sobre o efeito desta condição na manutenção de nossas relações, especialmente em um momento que já está complicado em demasia.

Por isso, que tal exercitar a arte de ouvir? Sim, é uma arte saber ouvir, que não é função ou habilidade exclusiva de terapeutas. Ela deve ser algo no qual devemos nos dedicar sabiamente a construir e fortalecer dia a dia. É o tipo de meta que deveria fazer parte de nossos objetivos anuais para podermos contribuir a princípio conosco e, em seguida, com os nossos relacionamentos.

Se você é especialista em algum assunto que surja em uma conversa, venda seu serviço e colha os frutos de seu trabalho. Caso não considere oportuno, aproveite para papear alegre e levemente e quem sabe propor boas perguntas que farão seu amigo (a) checar se havia pensado na situação por outros ângulos.

Vamos levar mais harmonia e camaradagem a esse mundo tão dividido e desnutrido de amor e paciência. Dessa forma, poderemos influenciar os que estão ao nosso redor a terem uma melhor saúde mental desde já.

Não deixe o lado sombrio dominar você!

*Markus Raymond é escritor e pensador

Imagem: Pixabay

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